A participação de uma transexual em um dos programas de maior audiência da TV brasileira despertou a curiosidade sobre um tema delicado e desconhecido por muitos. Não é a primeira vez que o tema ganha as ruas. Na década de 80, a modelo Roberta Close causou “frisson” com sua beleza e pelo enigma que representava. Contudo, o assunto não conseguiu ganhar na época a mesma amplitude de hoje, era da informação e da diversidade.
Os tempos são da aceitação. As multidões nas paradas da diversidade e a maior busca pelo direito da liberdade sexual são exemplos claros de que mesmo com muito preconceito ainda existente, o movimento LGBTTT (Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros) recebe hoje mais atenção e conquistou mais espaço e aceitação popular.
Se por um lado se melhorou a relação da sociedade com os gays e as lésbicas, ainda existe uma espécie de abismo de conhecimento com os travestis, transexuais e transgêneros. A ausência de informações consistentes sobre o tema ajuda a consolidar o preconceito.
Com certeza não deve ser fácil acordar todos os dias e se sentir preso a uma realidade que não se adéqua à sua forma de pensar, de se sentir. O drama referente à própria identidade de gênero aflige pessoas de todos os cantos do mundo que não enxerga em seu gênero o caminho da felicidade. Apenas no Brasil, estima-se que 1,5 milhão de travestis e transexuais assumam uma identidade de gênero diferente da atribuída na hora de seu nascimento.
“Um transexual é como uma pessoa que se sente em um corpo estranho”, afirma Eder Deodato, um dos sete diretores da ONG Leões do Norte, que há quase dez anos trabalha na luta pelos direitos LGBTTT e contra todos os tipos homofobia, entre elas a transfobia. Esta é a denominação para os preconceitos e/ou ações discriminatórias contra travestis e transexuais.
Para a pesquisadora Maria Cecília Patrício, as transformações vão além da aparência visual. “Não é só uma questão puramente de corpo, de manter ou retirar o órgão sexual. É uma decisão que pode ser apenas cultural, não há mudanças de sexo no caso da travesti. Ou pode ser também biológica, quando o indivíduo busca a mudança das genitais”, comenta.
Para quem sempre sentiu na pele o desafio de ser “diferente” em uma sociedade tão conservadora, os desafios parecem justificar a luta pela felicidade. A travesti secretária executiva da ONG GTP+ (Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo), Patrícia Gomes, afirma que a aceitação de sua expressão sexual é um passo muito difícil, tanto para quem se sente como membro do sexo oposto quanto para seus familiares. Porém, para a ativista, quem não se assume corre o risco de se tornar uma “pessoa frustrada e vazia”.
Aos 32 anos de idade, Patrícia é travesti desde os 20 anos. Confessa que passou por grandes dificuldades na vida, muito preconceito, descaso e até violência física, mesmo contando com o fundamental apoio da família. Mesmo já tendo sentido várias vezes o sabor amargo da rejeição social, não se intimida e se declara como uma pessoa feliz e que viu na transformação de seu corpo o caminho para sua afirmação sexual e conseqüente alegria de viver.
O “T” da questão
Ao destrinchar a sigla LGBTTT em Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros, o autor de qualquer texto estaria cumprindo com seu papel de gramaticalmente correto, delimitando o assunto que aborda, mas com certeza não seria claro. Por que são três os T’s da sigla? Eles representam grupos necessariamente distintos? A verdade é que ainda hoje na era da modernidade e da aceitabilidade, muito do que é dito sobre os trans é errado, preconceituoso ou incompleto.
Cada vez que surge uma nova nomenclatura para uma categoria específica, como é o exemplo de crossdressing (aqueles que se vestem e se caracterizam da mesma forma que o sexo oposto sem deixarem de ser heterossexuais), fica mais difícil delimitar significados formais para designá-los.
Até hoje, a definição que mais se aproxima do cotidiano é a da travesti. São pessoas, geralmente homens, que não se sentem confortáveis com o gênero que , pelas normas socialmente aceitas, deviam seguir. Eles se comportam como sexo oposto, se vestem como tal, trocam seus nomes e querem ser tratados assim, respeitados por isso. Contudo, não se sentem infelizes com seu órgão sexual.
A travestilidade foi o tema central pesquisado pela antropóloga Maria Cecília Patrício em sua tese de doutorado. Baseada em seus estudos, Cecília afirma que transexuais são pessoas que nasceram com um sexo diferente do corpo biológico, não aceitando seu aprisionamento àquela condição. Diferentemente das travestis, com as transexuais é notado um incômodo com seu órgão sexual, chegando a ponto de ser insuportável: “O pênis da transexual pode chegar a atrofiar ou necrosar devido a falta de uso e de higiene. Elas não querem nem tocar no órgão, é como se fosse um aberração”, diz a pesquisadora.
Em relação aos transgêneros, Cecília explica que este conceito ainda é mais amplo e complexo que os outros. Aplica-se à transitoriedade de sexo e de gênero, algo que não se pode definir ou delimitar. Assim, tanto se adéqua aos travestis quanto aos transexuais, ou a qualquer um que nem se encaixe por completo no masculino, nem no feminino.
Os tempos são da aceitação. As multidões nas paradas da diversidade e a maior busca pelo direito da liberdade sexual são exemplos claros de que mesmo com muito preconceito ainda existente, o movimento LGBTTT (Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros) recebe hoje mais atenção e conquistou mais espaço e aceitação popular.
Se por um lado se melhorou a relação da sociedade com os gays e as lésbicas, ainda existe uma espécie de abismo de conhecimento com os travestis, transexuais e transgêneros. A ausência de informações consistentes sobre o tema ajuda a consolidar o preconceito.
Com certeza não deve ser fácil acordar todos os dias e se sentir preso a uma realidade que não se adéqua à sua forma de pensar, de se sentir. O drama referente à própria identidade de gênero aflige pessoas de todos os cantos do mundo que não enxerga em seu gênero o caminho da felicidade. Apenas no Brasil, estima-se que 1,5 milhão de travestis e transexuais assumam uma identidade de gênero diferente da atribuída na hora de seu nascimento.
“Um transexual é como uma pessoa que se sente em um corpo estranho”, afirma Eder Deodato, um dos sete diretores da ONG Leões do Norte, que há quase dez anos trabalha na luta pelos direitos LGBTTT e contra todos os tipos homofobia, entre elas a transfobia. Esta é a denominação para os preconceitos e/ou ações discriminatórias contra travestis e transexuais.
Para a pesquisadora Maria Cecília Patrício, as transformações vão além da aparência visual. “Não é só uma questão puramente de corpo, de manter ou retirar o órgão sexual. É uma decisão que pode ser apenas cultural, não há mudanças de sexo no caso da travesti. Ou pode ser também biológica, quando o indivíduo busca a mudança das genitais”, comenta.
Para quem sempre sentiu na pele o desafio de ser “diferente” em uma sociedade tão conservadora, os desafios parecem justificar a luta pela felicidade. A travesti secretária executiva da ONG GTP+ (Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo), Patrícia Gomes, afirma que a aceitação de sua expressão sexual é um passo muito difícil, tanto para quem se sente como membro do sexo oposto quanto para seus familiares. Porém, para a ativista, quem não se assume corre o risco de se tornar uma “pessoa frustrada e vazia”.
Aos 32 anos de idade, Patrícia é travesti desde os 20 anos. Confessa que passou por grandes dificuldades na vida, muito preconceito, descaso e até violência física, mesmo contando com o fundamental apoio da família. Mesmo já tendo sentido várias vezes o sabor amargo da rejeição social, não se intimida e se declara como uma pessoa feliz e que viu na transformação de seu corpo o caminho para sua afirmação sexual e conseqüente alegria de viver.
O “T” da questão
Ao destrinchar a sigla LGBTTT em Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Transgêneros, o autor de qualquer texto estaria cumprindo com seu papel de gramaticalmente correto, delimitando o assunto que aborda, mas com certeza não seria claro. Por que são três os T’s da sigla? Eles representam grupos necessariamente distintos? A verdade é que ainda hoje na era da modernidade e da aceitabilidade, muito do que é dito sobre os trans é errado, preconceituoso ou incompleto.
Cada vez que surge uma nova nomenclatura para uma categoria específica, como é o exemplo de crossdressing (aqueles que se vestem e se caracterizam da mesma forma que o sexo oposto sem deixarem de ser heterossexuais), fica mais difícil delimitar significados formais para designá-los.
Até hoje, a definição que mais se aproxima do cotidiano é a da travesti. São pessoas, geralmente homens, que não se sentem confortáveis com o gênero que , pelas normas socialmente aceitas, deviam seguir. Eles se comportam como sexo oposto, se vestem como tal, trocam seus nomes e querem ser tratados assim, respeitados por isso. Contudo, não se sentem infelizes com seu órgão sexual.
A travestilidade foi o tema central pesquisado pela antropóloga Maria Cecília Patrício em sua tese de doutorado. Baseada em seus estudos, Cecília afirma que transexuais são pessoas que nasceram com um sexo diferente do corpo biológico, não aceitando seu aprisionamento àquela condição. Diferentemente das travestis, com as transexuais é notado um incômodo com seu órgão sexual, chegando a ponto de ser insuportável: “O pênis da transexual pode chegar a atrofiar ou necrosar devido a falta de uso e de higiene. Elas não querem nem tocar no órgão, é como se fosse um aberração”, diz a pesquisadora.
Em relação aos transgêneros, Cecília explica que este conceito ainda é mais amplo e complexo que os outros. Aplica-se à transitoriedade de sexo e de gênero, algo que não se pode definir ou delimitar. Assim, tanto se adéqua aos travestis quanto aos transexuais, ou a qualquer um que nem se encaixe por completo no masculino, nem no feminino.