Ao terminar a leitura dos jornais e do noticiário político na internet, no final da manhã desta segunda-feira, posso concluir que o Palácio do Planalto transferiu para a Procuradoria-Geral da República a decisão sobre o destino do ministro Antonio Palocci, chefe da Casa Civil. Mas será que é isso mesmo?
Como o procurador Roberto Gurgel não deu prazo para anunciar se vai ou não abrir investigação sobre a fortuna do ainda chefe da Casa Civil, com base nas explicações que lhe foram dadas pelo próprio ministro, pode ser apenas uma forma de prolongar a crise política, que entrou hoje no seu 22º dia.
Qualquer que seja a decisão de Gurgel, mesmo que tomada até quarta-feira _ ele tem uma viagem prevista para o dia seguinte _ , o problema central continuará do mesmo tamanho: a falta de apoios e de condições políticas mínimas para Antonio Palocci permanecer no cargo.
Porque a questão não é jurídica, é política. Melhor do que ninguém, Dilma, Lula e o próprio Palocci sabem disso.
Pela mesma razão, o ex-presidente Lula foi obrigado a demitir Palocci, em 2006, _ contra a vontade do então ministro da Fazenda, que até o fim queria mais prazo para se defender _ após duas semanas de desgaste do governo, com aquela história da quebra do sigilo do caseiro. Guido Mantega entrou em seu lugar no Ministério da Fazenda e se mantém lá até hoje.
Se Lula que era Lula, já no seu quarto ano de governo, depois de ter enfrentado a crise do mensalão, não conseguiu manter Palocci no cargo, por quais motivos a presidente Dilma Rousseff o faria agora, sabendo que já há números mostrando a queda na aprovação do seu governo?
Mantenho o que escrevi ontem aqui no Balaio com base em informações confiáveis: a saída de Palocci é só uma questão de tempo para combinar com os partidos aliados a sua substituição.
O único apoio que restou ao ex-todo-poderoso ministro, pelo menos formalmente, foi o do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves _ apoio que, a esta altura, já não se sabe se mais ajuda ou atrapalha.
Uma das consequências negativas da crise provocada por Palocci foi justamente aumentar a dependência de Dilma do PMDB, que era tudo o que ela não queria, como escreve hoje o colega Josias de Souza na Folha.
No próprio governo e no PT, não conheço mais ninguém disposto a defender a manutenção de Palocci no cargo de chefe da Casa Civil, ainda que Roberto Gurgel mande o caso para o arquivo.
Desta vez, não se poderá culpar a imprensa, que está se limitando a divulgar fatos, nem esta oposição cambaleante, que luta apenas para sobreviver, pela iminente saída do ministro-chefe da Casa Civil, único responsável pelas dificuldades que mais uma vez atravessa em sua vida pública.
Bastaram apenas cinco meses para Dilma constatar que, se é difícil se eleger e governar sem o PMDB, também é muito difícil governar com o PMDB, sem falar em aliados garotinhos que se aproveitam da crise para chantagear.
Daqui a pouco, quando o venezuelano Hugo Chavez encerrar sua visita oficial a Brasília, lá pelas 16h, a presidente Dilma vai ter que voltar para seu gabinete e tomar uma difícil e dolorosa decisão, que não pode mais esperar.
Esperar agora por uma manifestação do procurador-geral pode até ser bom para Palocci, mas não é bom nem para o governo nem para o país