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Réu do caso Alcides é condenado a 25 anos de prisão



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ANSIEDADE Grande público reunido na frente do fórum esperando a sentença
25 anos. Esse foi o tempo ao qual João Guilherme Nunes Costa, o Guigo, foi condenado pelo assassinato do universitário Alcides Nascimento Lins. A decisão foi proferida pelo juiz Ernesto Bezerra por volta das 20h40 dessa terça-feira (14). Dos 25 anos da pena total, 21 deles são por homicídio e 4 por corrupção de menores, uma vez que uma adolescente também participou do crime.
A defesa afirmou que recorrerá da sentença, alegando que há falhas no inquérito e que a pena decretada foi alta. O prazo para recurso é de 10 dias.
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FÉ A mãe de Alcides, vestida com o jaleco do filho, assassinado em 2010
O réu foi a júri popular, formado por quatro homens e três mulheres e o julgamento teve início por volta das 13h15, no Fórum Rodolfo Aureliano, em Joana Bezerra, Região Central do Recife.
Alcides era estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco, e foi morto em fevereiro de 2010 na porta de sua casa, na comunidade da Vila Santa Luzia, na Torre
ENTENDA O CASO ALCIDES :
Divulgação do vestibular 2010 com foto de Alcides

"Milhares de Alcides na UFPE

"Existem milhares de Alcides na UFPE".É assim que o reitor Amaro Lins gosta de enfatizar a inserção dos estudantes egressos de escola pública na universidade. Nenhum deles, no entanto, deve ter tido o mesmo vínculo com o reitor.
Amaro Lins está à frente de uma universidade com mais de 28 mil alunos. Em oito anos de gestão, deve ter tido contato direto com poucos. E mantido vínculos com um número ainda mais reduzido. Um desses poucos estudantes foi Alcides do Nascimento Lins.
Alcides recepcionado pelo Reitor Amaro Lins
Amaro destaca a importância da trajetória do jovem, mas gosta sempre de reforçar que ele não é um caso isolado. Diz também que Alcides serve de exemplo para estudantes de todas as classes sociais. "Ele foi um exemplo para jovens de todas as situações econômicas. Hoje em dia, por conta de Alcides, muitas pessoas, de diferentes níveis sociais, me falam que resolveram voltar aos estudos ou até mesmo se dedicar às atividades que realizam", comenta.
Alcides não foi um aluno a mais na UFPE. Nem para a sociedade e nem para os professores. Menos ainda para o professor Amaro Lins, que o recebia com frequência no próprio gabinete. Um privilégio para poucos.
Amaro o conheceu logo após o estudante ter sido aprovado no vestibular. Por indicação dele, o garoto estampou, meses depois, o Manual do Candidato, organizado pela Covest para os vestibulandos da UFPE. O reitor acreditava que ao menos essa vaga no manual não deveria ser ocupada por modelos, como ocorre usualmente na publicação.
O reitor conta que no dia do listão da UFPE, em 2010, encontrou Maria Luiza emocionada, já que uma de suas filhas havia sido aprovada no vestibular. No entanto, Amaro se desencontrou de Alcides.
A mãe do garoto pediu o celular emprestado para ligar para o jovem, que iria buscá-la de bicicleta no Memorial de Medicina, Derby, local onde sempre é divulgado o resultado do vestibular da UFPE. Um ano após a morte, o número de Alcides continua na agenda telefônica de Amaro Lins.

COLEGAS
Na UFPE, não é só o reitor que vai sentir falta do jovem de sorriso contagiante. Os colegas de classe Guilherme Gomes, 25 e Mirelly Alves, 21, sabem bem disso. Mirelly trabalhou com Alcides no começo do curso, no laboratório de Micologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB), no qual funciona o curso de Biomedicina. Ela conta que os alunos ficaram muito felizes ao saber que seriam colegas de Alcides."Todo mundo sabia da vitória dele, por conta da situação econômica. No curso, ele sempre encontrou muito apoio", diz.
Guilherme foi um dos alunos mais próximos de Alcides. Como morava perto da UFPE, na Cidade Universitária, sempre convidava o jovem para almoçar na sua casa. "No começo, eu não sabia bem quem era ele. Lembrava da história, mas não da fisionomia. Com o tempo, fomos nos aproximando". Guilherme soube do falecimento de Alcides por meio da imprensa e de um colega de curso. Ele compareceu ao enterro e à missa de sétimo dia do estudante. Alcides concluiria o curso, junto com Mirelly, Guilherme e outros alunos no primeiro semestre deste ano. "E terminaria muito bem, tenho certeza. Ele era um rapaz extremamente esforçado", resume a jovem. Os alunos da turma de Alcides vão homenageá-lo no dia da colação de grau e no culto ecumênico, em agosto. A mãe do estudante assassinado, Maria Luiza, vai ser convidada para o culto.

Ato Publico pela Paz, na UFPE. Foto: Bobby Fabisak

Tiros na esperança

A morte de Alcides foi injusta, brutal. Extremamente violenta. Mas não se pode dizer que tenha sido silenciosa. Trouxe consigo uma revolta com a falta de segurança no Recife e uma comoção popular rara de se encontrar nos dias atuais.
Jovem, pobre e negro. Alcides carregava as três características das pessoas mais suscetíveis à violência. Como ele, já morreram tantos outros. Vários Alcides escondidos na periferia do Recife e de várias cidades brasileiras. Pernambuco ainda é o segundo estado onde morrem mais negros, atrás apenas da Paraíba.
Alcides que sonham, brigam, lutam. Vencem, fracassam. E desafiam diariamente as estatísticas, numa corda bamba entre a vida e a morte. Um limite muito tênue, que se dissolve na lágrima de uma mãe ou no gatilho de um revólver. Foi assim com Alcides, será assim com vários outros.
A morte do estudante deixou, além da imagem brutal na mente da família, um sentimento contínuo de insegurança e insatisfação em boa parte da sociedade pernambucana.
Esta mesma sociedade aterrorizada não deixou de prestar homenagens àquele que se transformou em símbolo da resistência, da luta contra a desigualdade e a injustiça social. Alcides, além de estudar na UFPE, trabalhava no Hemope e sustentava quase sozinho a mãe e três irmãs. Era também um dos melhores alunos de Biomedicina, segundo o professor Paulo Miranda. E planejava começar o curso de medicina. Mais um sonho interrompido na vida do jovem.
O acusado pela morte de Alcides, João Guilherme Nunes Costa, está preso no Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. O adolescente que também teria participado do crime está na Funase (Fundação de Atendimento). Eles já estão à disposição da Justiça. O juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti, da 1ª vara do Tribunal do Júri do Recife, já ouviu todas as partes do processo. Ministério Público e defesa também já fizeram suas alegações finais. O juiz deve decidir, em breve, se o caso deve ir ou não a júri popular.

DOCUMENTÁRIO
Sobre esses sobreviventes, os jornalistas Erika Castaneda, Jaime Cavalcanti, Paula Sampaio e Pedro Escobar produziram o documentário "Os outros". Nele, são mostradas as histórias das catadoras de lixo Maria das Dores, que trabalhava na Mirueira, e Nice Bezerra, nora de Maria. A filha de Nice, Natália, 16 anos, sustenta um filho com dificuldade. O marido da adolescente vive de "bicos" e ela não trabalha. "Meu sonho é sair daqui", diz Nice. Luiz Francisco, carroceiro, diz que só pede um presente ao filho: que ele estude.
O cientista político José Maria Nóbrega traz relevante contribuição ao documentário, ao explicar o porquê da comoção social causada pela morte de Alcides. "Um jovem, mesmo estando no grupo entre 20 e 29 anos de idade, do sexo masculino, negro e de baixo nível de renda, se ele consegue ter um alto nível de escolaridade, ou seja, se ele consegue ultrapassar os doze anos de estudo, dificilmente ele é vitimado. Quando isso ocorre, há um impacto muito grande".
Outros personagens do documentário são os estudantes universitários Sandro Silva de Lima, Igor Gomes e Waneska Viana, todos egressos de escola pública."Alcides conseguiu chegar [na Universidade], mas existem muitos Alcides que não conseguem. Isso tem que ser visto", comenta Waneska

Amaro Lins - Reitor da UFPE. Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
" Alcides era um menino extremamente responsável. Vai servir de exemplo para milhares de jovens. Ele era um ícone"
Marcos André - Orientador de Alcides no Hemope. Foto: Divulgação
" Alcides era alegre, estava sempre de bem com a vida. Era dedicado e tratava a todos muito bem"
Maria Luiza - Mãe de Alcides. Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
" Ele era a luz da minha vida. A saudade ainda machuca demais. Quando Alcides morreu, eu também morri com ele"
PAULO MIRANDA, PROFESSOR DE BIOMEDICINA. Foto: Divulgação
" Alcides sabia ser, ao mesmo tempo, divertido e responsável. Era também um excelente pesquisador. Ele vai fazer muita falta para a Biomedicina e para todos nós"